Evangelho em prosa: Um convite à reflexão

No próximo domingo, dia 3 de outubro, é dia de irmos às urnas para escolher alguns daqueles que vão nos representar em cargos políticos pelos próximos quatro anos (oito, no caso dos dois senadores que serão eleitos em cada estado). A proposta da coluna Evangelho em prosa não é política. Nosso papel é promover discussão a respeito do Evangelho. E é justamente por isso que faremos um convite à reflexão sobre este importante momento do país, e não apologia a nenhum candidato.

Como seguidor de Cristo, não acredito que a política, ou qualquer outro instrumento humano, seja suficiente para gerar as transformações que o Brasil precisa. Não consigo enxergar outro meio de alterar positivamente a realidade, se não por meio do Evangelho. Infelizmente, hoje, se vê por aí uma mistura cada vez mais frequente entre religião e política, algo que considero absurdamente maléfico. Muitos cristãos, pensando ser a política capaz de mudar o mundo, entregam-se a ela e acabam se perdendo. Esquecem-se do foco, negam a mensagem da Cruz. Inevitável é citar o número de escândalos envolvendo cristãos, fato cada dia mais crescente.

Isso apenas nos remete a algo que nem precisaria ser provado a um seguidor de Cristo: a política é incapaz de alterar o curso deste mundo! Nos evangelhos, observando a trajetória de Jesus, em momento algum nós o vemos tentando promover qualquer aproximação entre a sua mensagem e a política. Ele nunca nos orientou: "busquem a política e, assim, transformarão o mundo". Muito pelo contrário, Cristo nos deixou duas orientações que têm muito mais poder de transformação que o engajamento político: a busca pelo Reino de Deus e o amor ao próximo. Foi isso o que Ele fez. Foi isso que Ele ensinou e desejou que seus seguidores fizessem.

E essa postura teve mais poder que o que vemos hoje. É muito mais comum vermos cristãos envolvidos diretamente com o poder se envolverem em escândalos, do que aqueles que escolhem o caminho da dedicação ao próximo, o caminho do Amor.

Ditas essas coisas, volto ao tema Eleições 2010. A ideia é promover discussão também a respeito do voto, que não deixa de ser importante e necessário. O fato de ser o Evangelho o caminho para a transformação da sociedade não exclui o debate político. Pelo contrário. O convite é para que entendamos que a política deve servir à mensagem do Evangelho, e jamais o contrário.

É necessário que tenhamos pessoas com essa mentalidade em posição de poder. Mas aí pouco importa a religião. Ser cristão nem sempre significa carregar a mensagem do Amor. Às vezes não passa de uma religião. É por isso que fica o convite a observar além na hora de escolher os candidatos. Jesus nunca observou os rótulos religiosos que os outros carregavam. Descobriu, entre os gentios, várias pessoas que fizeram do Amor o canal de transformação. Esses não se encontravam apenas entre os judeus. Na verdade, foram os próprios judeus que o condenaram à morte. E isso por Ele anunciar uma mensagem que, quase sempre, se opunha ao ortodoxismo religioso, à cabeça fechada dos líderes judeus.

Assim como é arriscado o que se tem feito com o Evangelho, transformando-o em um manual de regras, também é um risco observar a política como um simples joguinho de sim ou não. Escolher candidatos apenas baseado em suas opiniões sobre certos temas considerados polêmicos é uma redução grave do debate político. Antes de observar rótulos, é preciso engajar-se em busca de conhecer o conteúdo. O Evangelho não é um manual do que se pode ou não fazer. Evangelho é proposta de Vida. Cristo veio para nos dar Vida. O que vale não é o rótulo, é o conteúdo que se carrega. Na política também é assim.

E é muito bom quando encontramos um candidato que entende que a política, quando submissa ao Espírito do Evangelho, tem poder de produzir vida...

Para a presidência, consegui encontrar alguém assim. E isso me renova a esperança de que um dia as coisas possam mudar...

Que o Pai nos dê sabedoria! Ainda há tempo para aceitar este convite à reflexão...

Rafael Rocha
rafaelrocha@portaldt.com