Evangelho em prosa: O Amor que supera limites


Há algum tempo assisti a um filme tocante, chamado “O escafandro e a borboleta”, que conta a história real de Jean-Dominique Bauby, editor de uma famosa revista francesa, que sofre um acidente vascular cerebral e é acometido por uma rara síndrome, que o deixa com apenas o movimento do olho esquerdo. E esse olho se torna a sua única forma de comunicação com o mundo exterior.

Para quem não sabe, escafandro é aquela roupa utilizada para longos mergulhos. Na vida de Jean-Dominique, a doença é o escafandro, que o mergulhou em uma existência dificílima. Mas por que borboleta? Bem, é aí que a história começa a ficar interessante. O filme leva o mesmo título do livro em que foi baseado. E quem escreveu o livro? O próprio Jean. Ou seja, o livro é a borboleta. Ou a beleza que surge em meio à dor. Cerca de 140 páginas, ditadas através de um sistema de comunicação baseado apenas no piscar do olho esquerdo. Incrível, não é?

A vida humana é cheia de limites. Eles nos mostram até onde podemos ir. E indicam o lugar do qual não podemos passar. Alguns limites nascem conosco. Outros surgem no caminho, como no caso de Jean-Dominique. Mas o que o exemplo dele nos mostra é que podemos romper esses limites.

Na semana passada, falei aqui da necessidade e da inevitabilidade do sofrimento na nossa vida. O sofrimento é também um limite, talvez o principal dos limites que vamos enfrentar enquanto estivermos nesta terra.

Mas o que é que tem o poder de injetar em nós a vontade de superar os limites que se apresentam a nós na caminhada? Para mim, somente o Amor do Pai, que nos atinge das mais diversas formas. No caso de Jean-Dominique, esse Amor se revelava no cuidado dos seus filhos, do seu pai e de seus amigos. Foi isso que o motivou a buscar forças para aprender a se comunicar, a fim de poder ter alguma forma de contato com aqueles que amava.

O Amor de Deus tem a capacidade de nos fazer superar os nossos limites, nossas fraquezas, nossas imperfeições. O Amor do Pai é unilateral. Parte de Alguém que decidiu amar e oferecer Vida gratuitamente a nós, objetos não merecedores desse incrível Amor. É muito diferente da paixão, que depende da bilateralidade, do retorno, para não morrer. Amor não morre. Mesmo que tenha que sobreviver apenas de um lado. É esse o segredo que torna o Amor de Deus infalível!

Amar o nosso irmão e, principalmente, os nossos inimigos é uma experiência diária de superação de limite. Nem sempre é fácil amar o diferente. Mas o Amor vem de Deus! Que nos lembra que todo aquele que ama é nascido de dEle... Creio plenamente nisso.

A parte principal Ele já fez. Agora, cabe a nós vencer o escafandro, tecido pelos nossos limites, pelo medo e pelas decepções passadas. O mundo precisa de mais borboletas. Ainda há tempo... E aí, o que nós vamos fazer?

Rafael Rocha
rafaelrocha@portaldt.com