Em julho deste ano, o treinador do Fluminense, Muricy Ramalho, foi convidado pela CBF para assumir o comando técnico da seleção brasileira de futebol. Após conversa com a diretoria do Tricolor das Laranjeiras, em que não foi liberado pelo clube, negou o convite tão almejado e continuou no Fluminense. A atitude lhe rendeu inúmeras críticas, de parte da imprensa e também de alguns torcedores.No dia 25 de julho, Muricy falou pela primeira vez sobre a recusa. Em uma entrevista ao Globoesporte.com, ele explicou o porquê de não deixar o Fluminense sem a liberação da diretoria. Segue um trecho da fala do treinador:
“Podem pensar que esse cara é louco. Mas eu não sou louco. Sou do tempo em que quando você assina um contrato tem que cumprir. Se hoje não é isso que a gente vê... faço a minha parte. Acho que a vida é assim. Você escolhe um rumo na vida. (...) Perguntavam para mim... mas e se o Fluminense depois te mandar embora? Aí é um problema do Fluminense. Agi da forma que acho certo. Aprendi na vida que precisava respeitar as pessoas que lhe tratam bem, com quem você tem contrato. Conversei com os dirigentes do Fluminense e não houve a liberação. (Fiquei) Triste porque era uma oportunidade. Mas procurei este lado para a minha vida. Para assumir algo tenho que estar com a vida bem resolvida. Sobre a liberação poderia fazer uma pressão, pedir um aumento, essas coisas. Mas não é a minha linha. Deixei o Fluminense decidir. Sobre o papo da multa. Acertamos o contrato de dois anos e meio na palavra. Para vocês sentirem como eu sou.”
Confesso que fiquei impressionado com tais declarações. Não é fácil encontrar, hoje, no mundo, pessoas que honrem a palavra, que entendam a noção de compromisso. No futebol, então, menos ainda. Estamos acostumados a ver uma constante troca de profissionais entre os clubes.
Na vida, com frequência, estaremos expostos a situações como essa. Teremos que decidir entre cumprir uma promessa e permanecer onde estamos ou quebrá-la para subir de posição. Isso ocorre nos mais diversos ambientes: empresas, escolas, associações, igrejas... Não é fácil assumir o risco ético de negar uma oportunidade, ficar no lugar onde se está e, depois, não ter certeza se o resultado será favorável. Muitas vezes o resultado pode ser negativo.
Nesse domingo, após a conquista do Campeonato Brasileiro pelo Fluminense, um repórter perguntou ao Muricy se, agora, ele se sentia aliviado por ter recusado o convite da CBF. Ponderado, ele respondeu que o alívio independia da conquista, que já se sentia bem antes, apenas por ter cumprido sua palavra. Admirável! No dia 25 de julho, há quase cinco meses, ele disse: “O que me realiza é andar na rua e de cabeça erguida. Isso é o que me deixa feliz. Eu poderia até estar em um lugar melhor, mas eu não estaria bem comigo. Deixaria as pessoas no meio do caminho de um projeto que eu montei, combinei e assinei. Foi o rumo que dei para a minha vida. Se eu mudar eu vou me sentir mal.”
Parabéns ao Muricy, campeão brasileiro pela quarta vez nos últimos cinco anos!
Que sua atitude sirva de inspiração a todos nós na hora de cumprir promessas.
Rafael Rocha
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Crédito da foto: site oficial do Fluminense








